sexta-feira, 16 de novembro de 2012

A BURRA DA ARROCHELA



Tive há tempos uma burra,
Ora mansa, ora brava,
Ensaiei-lhe forte surra
Mas a burra não andava.
Granjeei-a no mercado
Para as minhas precisões
Mas fui logo enganado
Num negócio a feijões.
Fui no conto do vigário,
Numa falsa reinação,  
Minha vida ao contrário
Só me traz desilusão.
Foi lustrosa e refinada
Na courela de um marquês
E agora desempregada
Já não tem nenhum freguês.
Àquela infeliz burreca,
Meia parda, meia verde,
Emborquei-lhe uma bejeca
E saltou-me p´ ra parede.
Parecia uma jumenta
Não sabia trabalhar
Espargi-a de água benta
Pôs-se logo a zurrar.
                        Mui velhaca esta burrica
                        Rejeitava comer palha
                        Pelos vistos é bem rica
                        E eu pobre, Deus me valha.
                                                                       Ia o tempo e a burranca
                                                                       Não fazia seu serviço
                                                                       Outro dia fez-se manca,
                                                                       Não há quem lhe dê sumiço?
                        Não gostava da carroça
                        E dava coices para o ar
                        Castiguei-a numa choça
                        E comida nem pensar.
                                                                       Tive pena desta mula
                                                                       Não sabia o que fazer
                                                                       Para lhe matar a gula
                                                                       Dei-lhe figos a comer.
                        Quem souber da felizarda
                        E lhe queira dar ousio
                        Arreatem-lhe uma albarda
                        Para um novo desafio.
                                                                       Se a pileca não engata
                                                                       Nunca trote lá na frente
                                                                       Pegue a burra p´ la arreata
                                                                       Vá a pé com toda a gente.
                        Se tiver dificuldade
                        Compre-lhe umas ferraduras
                        Morrerá de velha idade
                        Como as santas criaturas.
                                                                       Esta trova metafórica
                                                                       Não tem nada de política
                                                                       Tem pimenta e retórica
                                                                       E até alguma crítica.
                        Eis a estória-brincadeira
                        Desta Burra da Arrochela,
                        De um lugar de Nespereira,
                        Vivendo à boa-vai-ela!  
                                                                      
                                                                      
                                                           Frassino Machado
                                                           In CANÇÃO DA TERRA
                                                          
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sábado, 3 de novembro de 2012

CRÓNICA DAS BODAS DE OURO



BARAÇAL DO COA – SABUGAL

Dra. Adélia Teixeira – CRÓNICA DAS BODAS DE OURO SACERDOTAIS

No pretérito dia 11 de Agosto, esta Comunidade Paroquial viveu momentos de elevado e invulgar significado.
O ilustre filho desta Terra, reverendo Cónego António Fernando Marques, a desempenhar o seu múnus sacerdotal na arquidiocese de Évora, também quis celebrar o jubileu dos Cinquenta Anos sacerdotais na sua Terra Natal, sendo fiel ao chamamento «Tu és sacerdote para sempre» (Sl. 110, 4).
Nesse dia marcante e festivo a ampla igreja Matriz de Baraçal, ornamentada com rigor condizente, encheu-se de brilho e solenidade, congregando à volta da mesa do altar duas dezenas de sacerdotes, o povo vibrante com o pároco, Pe. Morgado, familiares e amigos vindos de diversos pontos.
Sentimo-nos mais Igreja, visto que duas Dioceses – Guarda e Évora –  se irmanaram, tendo à frente os Pastores máximos das mesmas.
De Évora, com um grupo de clérigos e fiéis, deu-nos a distinta honra de vir até nós o Sr. Arcebispo, D. José Alves, filho deste nosso Concelho, que teve palavras repletas de entusiasmo, saber e alma de Pastor de acordo com a solenidade, salientando o meritório desempenho do Reverendo Cónego Fernando Marques na sua Igreja – Arquidiocese de Évora. Também lembrou, com respeito e saudade, o que ao tempo foi pároco desta Comunidade de Baraçal, Pe. José Maria Machado, cuja memória ficou ligada para sempre à construção da actual Igreja.
Da Guarda, o nosso venerando Bispo, D. Manuel da Rocha Felício, salientou o grande momento e a dignidade sacerdotal, com eloquentes palavras de Pastor a que já habituou a sua Igreja Diocesana.
Por sua vez o homenageado, Cónego Fernando Marques, estava feliz. Não obstante a ponte que o tempo lançou do já distante ano de 1962, data da sua ordenação, até ao presente jamais abrandou a chama bem acesa nessa era, antes se avivou na diaconia do saber humanista e sagrado, disponibilizando com docilidade e alma em festa a expansão da Fé.
Tudo se desenrolou com muita eficiência e dignidade. Os cânticos apropriados tiveram sábia orientação da D.ª Teresa Pereira, prestimosa colaboradora da Arquidiocese de Évora, bem como a mestria instrumental do organista Dr. Francisco de Assis, tudo num harmonioso contributo musical.
Do princípio ao fim a Eucaristia foi um hino de louvor e de acção de graças, não faltando a alegria e singularidade das crianças na sua apresentação dos dons do Altar, enriquecendo com júbilo a solene efeméride.
A festa prosseguiu, ao longo da tarde, em confraternização e ambiente agradáveis, no restaurante RAIHOTEL do Sabugal, onde se viveu um tempo pleno de harmonia e verdadeira felicidade.
Bem hajam todos os que propiciaram tão grandiosa festa Jubilar e que o reverendo Cónego Fernando Marques continue a dispensar o seu múnus sacerdotal, com o entusiasmo que lhe é peculiar, e a semear a palavra do Senhor, não só na vasta messe alentejana, mas também nesta Diocese que lhe é cara.
Reiteramos o que ficou dito: Muito obrigado, caríssimo Cónego, por esse dia que viveu no Baraçal, o qual ficará gravado para sempre nos anais da vida desta Comunidade.

                                                                                                               Adélia Teixeira


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quinta-feira, 25 de outubro de 2012

À MEMÓRIA DE ANTÓNIO PINA



António Pina, 1943 - 2012


À MEMÓRIA
do poeta
ANTÓNIO PINA


Admiro este poeta conterrâneo
que não sendo poeta con-vencido
partiu do mundo-cão tão instantâneo
sem tempo para ser re-conhecido.

Abraço cordial p´ ra António Pina
com tod´ a pena de o não conhecer
é dos poetas a trágica sina:
transitar nesta vida sem VIVER!

Frassino Machado,
In FRAGMENTOS DE VIDA

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

TI JAQUINA LÁ DA ALDEIA


       
Está limpa a nossa aldeia
De tudo o que é excremento
Ti Jaquina teve a ideia
De ver a todo o momento
Um lustroso pavimento
Antes da hora da ceia.

Ali vai uma bezerra
Mais além um bezerrão
Umas cabras lá da serra
Logo atrás do seu patrão
E pelo sim pelo não
Uma cesta vai na berra.

Sai de casa com o sol
Uma côdea no avental
Tem de anos lindo rol
E um sorriso jovial
O povo não fala mal
Do que leva a tiracolo.

Junto à cesta vai um sacho
Com garrafita de vinho
Todo o chão no seu despacho
Vai ficando bem limpinho
À horta chega cedinho
Que o sol ainda está baixo.

- Ó couves p´ ra que vos quero,
Esta seca brada aos céus,
Se me rala o destempero
Minha vida queira-a Deus
Pois se não tenho pros meus
Desta horta nada espero.

- Ti Jaquina, ti Jaquina,
Não se faça de mendiga
P´ ra alegrar esta campina
Deite cá uma cantiga
Do tempo de rapariga
Com sua voz cristalina.

Ti Jaquina lá cantava
As cantigas de então
E quando ela passava
De cesta suja na mão
A aldeia com afeição
Alguma coisa lhe dava.

Frassino Machado
In CANÇÃO DA TERRA

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terça-feira, 28 de agosto de 2012

ISTO É QUE VAI UMA CRISE!



Sporting, 0 X Rio Ave, 1

Ao Leão com triste sina,
Boa sorte ou má que tenha,
Com tal Ave de rapina
Não há mal que lhe não venha.

Por mais receita ou lição
Que seu mister determina
Não há quem dê solução
Ao Leão com triste sina.

Por vezes até acerta
E o sucesso se desenha
Mas outro azar o aperta
Boa sorte ou má que tenha.

Apesar de grande alarde,
De barrete e de batina,
Logo perde em Alvalade
Com tal Ave de rapina.

Já descobriu a Torcida
Qu´ a equipa não desempenha,
Com este Leão sem saída
Não há mal que lhe não venha.

A Equipa está muito forte
Preparada para a Crise
O que nos falta é a sorte
P´ ra vencer mais um deslize.

Venham todos, quantos são?
Nem se ponham pr´ ai a rir,
Não brinquem com este Leão
Que o Sucesso há-de vir!

Frassino Machado
In GLOSAS & BANDARILHAS

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

O DIABO À SOLTA



Quando algum mal vai e volta
Não se sabendo a razão
Diz-se que o diabo anda à solta
E já não há salvação.

Toda a terra tem sua lenda
De faceta um pouco torta
Em cada caco sua venda
Quando algum mal vai e volta.

Sabendo que por natureza
Não há bela sem senão
Existe sempre a incerteza
Não se sabendo a razão.

Por mais que se busque o bem
Há sempre defeito à volta
Para não se culpar ninguém
Diz-se que o diabo anda à solta.

E toda a trama acontece,
Burla, crime, exploração,
Ter lata só fortalece
E já não há salvação.

No dia de São Bartolomeu
Anda à solta o velho diabo
Como hoje nunca aconteceu
Ser tão certo este ditado.

É o diabo, sim, é o diabo,
Surgir a cada momento
Um buraco a fazer estrago
E ninguém dar travamento.

Frassino Machado
In GLOSAS & BANDARILHAS

domingo, 19 de agosto de 2012

FERNANDO MARQUES - UM COMBATENTE HUMANISTA DE DEUS



Cónego de profissão, o doutor Fernando Marques, completou há dias cinquenta anos da sua ordenação sacerdotal. Muito tem dado da sua vida a uma causa digna e única na história da Igreja e da família eclesial. Foi no dia 11 de Agosto de 2012, na igreja Paroquial de Baraçal do Coa, com a presença de vinte e um companheiros de caminhada, entre eles um bispo (Guarda) e um arcebispo (Évora), mais o testemunho de todo o povo da sua freguesia natal, que enchia por completo o templo da terra.
Mas, quem é Fernando Marques?
Dados Pessoais:
- Nascimento: 11 de Agosto de 1939, na localidade de Baraçal, concelho de Sabugal, distrito e dioceses da Guarda; Filiação: pai – Manuel Marques Janela; mãe – Joaquina Afonsa Salgueiro; baptismo: 13 de Agosto de 1939, na igreja paroquial de Baraçal; admissão no seminário: Outubro de 1950; crisma: 29 de Abril de 1953, em Vila Viçosa; admissão às ordens sagradas: prima tonsura clerical – 26 de Junho de 1960, na Sé de Évora; primeiras ordens menores: 25 de Junho de 1961, na Sé de Évora; subdiaconado: 22 de Outubro de 1961, na igreja do Espírito Santo (Évora); ordenação diaconal: 11 de Março de 1962, na igreja do Espírito Santo (Évora); ordenação presbiteral: 1 de Julho de 1962, na Sé de Elvas; missa nova: 15 de Julho de 1962, na igreja paroquial de Baraçal-Sabugal.
            Habilitações Literárias:
- Curso Filosófico-Teológico concluído no seminário Maior de Évora, em 15 de Junho de 1962;
- Licenciatura em História (Universidade Clássica de Lisboa) em 25 de Julho de 1975;
- Mestrado em Recuperação do Património Arquitectónico e Paisagístico (Universidade de Évora), em 25 de Março de 1999.
            Actividades Académicas:
- Fundador e Professor da Telescola (Ensino Básico) da Granja (Mourão), de 1967 a 1970;
- Prefeito e professor de História, Geografia, Introdução à Política e Arqueologia no seminário Maior de Évora, de 1970 a 1976;
- Professor de História no Ensino Secundário (Escolas Severim de Faria e Gabriel Pereira-Évora, de 1975 a 1999;
- Professor de História da Cultura Portuguesa (1978-1981) e Arqueologia e Arte Cristã no Instituto Superior de Teologia de Évora (ISTE) desde 1978;
- Secretário da Comissão Directiva do ISTE, de 1979 a 1981.
            Actividades Pastorais e Outras:
- Coadjutor da Paróquia da Sé de Évora, de1962-1966;
- Pároco: Granja (Mourão) – 1 de Janeiro de 1967 a 30 de Setembro de 1970; Torre de Coelheiros – 1977-78; Nossa Senhora de Tourega – desde Setembro de 1978 e S. Mamede (Évora), desde 10 de Outubro e 1982;
- Membro da Equipa de Superiores do seminário Maior de Évora, de 1970 a 1976;
- Cónego da Sé de Évora desde 8 de Dezembro de 2000;
- Presidente das Comissões Diocesanas de Arte Sacra e de Bens Culturais da Igreja desde 1998;
- Presidente da Direcção da LASE (Liga dos Antigos alunos dos seminários de Évora) desde 2001;
- Membro nato do Conselho Nacional dos Bens Culturais da Igreja e Delegado da Comissão Arquidiocesana de Évora dos Bens Culturais da Igreja;
- Vigário da Vara e Moderador da Zona Pastoral Centro-Sul da Arquidiocese de Évora desde 2006;
- Director Diocesano Apostolado da Oração desde Outubro de 2010;
- Representante do Cabido no Conselho Presbiteral Arquidiocesano desde 2008;
- Colaborador assíduo do Jornal Semanário “A Defesa” desde 2001, enquanto redactor de Crónicas sobre Património Desconhecido;
- Autor do livro “Mosteiro de Nossa Senhora do Espinheiro” (Évora). “Bases para uma Proposta de Recuperação e Valorização” (Tese de Mestrado), Gráfica Eborense, Évora 2004;
- Co-Organizador do evento “Rota das Igrejas de Évora”.

            Poder-se-á concluir – à vista de um tal Currículo personalizado e altamente dinâmico, ainda em curso – que o Cónego Fernando Marques, tem sido desde muito novo e desde muito cedo um autêntico Combatente das Causas Nobres da Igreja, tanto no âmbito intelectual, como pastoral e patrimonial, acção essa que muito tem dignificado e testemunhado a Cultura Nacional e Eclesial. Da mesma forma que, devido à sua personalidade e valor, muito tem honrado as terras de Riba Côa, nomeadamente a sua freguesia natal, o Baraçal, e logo numa área geográfica historicamente sensível como o é o “Alentejo Português”.

            Síntese e adaptação do professor Assis Machado/Frassino Machado

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sexta-feira, 10 de agosto de 2012

CONCEITO TRADICIONAL DE «CÓNEGO»


 

CÓNEGO – Tradicionalmente é um Presbítero que faz parte de um Conselho Colegial, o qual tem a função de eleger o novo bispo de uma Diocese, ou Arquidiocese devendo assessorá-lo. Caso aconteça um impasse no acto da eleição, quem decide é sempre o Papa. Esta função perdurou do século XII ao XVI. Actualmente, após o Concílio de Trento, neste mesmo século, os Cónegos constituem um conselho do Bispo, com sede na Catedral.
CABIDO: Conjunto de Cónegos de uma Catedral.
Os cónegos, num Cabido, normalmente, dividem-se em duas classes: os que têm dignidades e ofícios e os que não têm. O número máximo de dignidades num Cabido diocesano é de cinco: deãoarcediagoarciprestechantre e mestre-escola, sendo acrescentado o tesoureiro-mor, no Cabido metropolitano. Os ofícios são: teologal, penitenciário, secretário, apontador, prioste, fabriqueiro e hebdomadário.
Historicamente, a função de um Cabido de Cónegos é a de assegurar o serviço religioso da catedral, colegiada ou igreja a que pertence. Tal serviço inclui não somente a celebração da Missa, mas também e principalmente a Liturgia das Horas.
A instituição canonical – que preside juridicamente ao conceito de Cónego – parece remontar a certos bispos do século V, que reuniram em torno de si sacerdotes que viviam comunitariamente.
Desde o século XII, distinguem-se os cónegos Regulares dos Seculares. Sendo os primeiros, os que vivem em comunidade, fazendo os três votos: de castidade, pobreza e obediência, como os Cónegos Regrantes de Santo Agostinho, entre outros.
Os Seculares são os que vivem no mundo, servindo numa igreja Catedral ou numa igreja Colegial. Mas tanto os Regulares como os Seculares são sacerdotes dedicados à celebração ou coordenação do Ofício Divino numa determinada Igreja. Actualmente há-os que regem funções diplomáticas, no âmbito das diversas Igrejas, e ainda os que prestam serviços pedagógicos em Colégios, Institutos e, mesmo, Universidades.

Recolha do prof. Assis Machado