segunda-feira, 24 de setembro de 2012

TI JAQUINA LÁ DA ALDEIA


       
Está limpa a nossa aldeia
De tudo o que é excremento
Ti Jaquina teve a ideia
De ver a todo o momento
Um lustroso pavimento
Antes da hora da ceia.

Ali vai uma bezerra
Mais além um bezerrão
Umas cabras lá da serra
Logo atrás do seu patrão
E pelo sim pelo não
Uma cesta vai na berra.

Sai de casa com o sol
Uma côdea no avental
Tem de anos lindo rol
E um sorriso jovial
O povo não fala mal
Do que leva a tiracolo.

Junto à cesta vai um sacho
Com garrafita de vinho
Todo o chão no seu despacho
Vai ficando bem limpinho
À horta chega cedinho
Que o sol ainda está baixo.

- Ó couves p´ ra que vos quero,
Esta seca brada aos céus,
Se me rala o destempero
Minha vida queira-a Deus
Pois se não tenho pros meus
Desta horta nada espero.

- Ti Jaquina, ti Jaquina,
Não se faça de mendiga
P´ ra alegrar esta campina
Deite cá uma cantiga
Do tempo de rapariga
Com sua voz cristalina.

Ti Jaquina lá cantava
As cantigas de então
E quando ela passava
De cesta suja na mão
A aldeia com afeição
Alguma coisa lhe dava.

Frassino Machado
In CANÇÃO DA TERRA

http://cimodopovo.blogspot.com
https://facebook.com/pages/tertulia-poetica-ao-encontro-de-bocage/129017903900018