domingo, 3 de novembro de 2013

CEMITÉRIO DA CRISE

                                         

"Dia de finados 2013


Este dia de brumas dilacerante
Com rostos macerados de espanto
Tem palavras vazias, negro manto
Num espelho de crise angustiante.

Com braços estendidos, voz semblante,
Deserto abandonado em desencanto,
Vão adultos e velhos ao campo santo
Contar as dor´ s da alma lacrimante.

A mesma fala dobra-se ao lamento
De ninguém saber bem a quantas anda
Nesta terra despida de sustento.

Como é gritante esta vil desmanda,
Feroz cavalo que partiu no vento,
Num destinar incerto sem desanda.

Corrupção, injustiça, desemprego,
Cemitério de crise, d´ sassossego,
E cada dia mais e mais tormento!

Frassino Machado
In MUSA VIAJANTE

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quinta-feira, 11 de abril de 2013

À NIKITIRI




                                               Sonetilho de coda

Veio da rua com fome
Sem abrigo e sem esteira
Saiu-lhe a sorte ligeira
Nesta mansão de renome.

Esta gata come e dorme
É feliz à sua maneira
Tem boa cama-trapeira
Nikitiri de seu nome.

Gosta bem de gulodices
E dá já certa despesa
Pelas suas traquinices.

Tratada como princesa
Não aguenta chatices
E põe-se logo à defesa.

Nikitiri das mil sortidas
És filha da natureza
No teu vale de sete vidas!

Frassino Machado
In AO CORRER DA PENA

domingo, 6 de janeiro de 2013

QUADRAS DE REIS




Nesta casa afortunada
Em cada ano ouvireis
Até alta madrugada
O nosso cantar de Reis.

Vimos lá do Oriente
À luz da estrela dourada
E trazemos um presente
P’ ra família abençoada.

Vimos três, mas somos mais,
Os outros estão a chegar
Já lá vêm nos quintais
Para connosco cantar.

À patroa deste solar
Por quem temos muita estima
Vamos-lhe à luz do luar
Cantar a primeira rima.

Ao calor dessa lareira
Mais vossa filha formosa
Ela será vossa herdeira
E vós a feliz ditosa.

Ao ilustre senhor patrão
Queremos todos dizer
Do fundo do coração
Há-de um dia enriquecer.

Não sabemos se há mais gente
Nesta casa acolhedora
Sabemos só qu’ é bem quente
E não queremos ir embora.

Nós somos gente de bem
Mas sabemos bater o pé
A quem s’ esquecer porém
Da família de Nazaré.

Somos reis sem ter dinheiro
Não temos ouro nem prata
O coração está primeiro
Nesta vida tão ingrata.

Recebam mui prazerosos
Esta bênção do Senhor
Que trazemos generosos
Para um futuro melhor.

Numa noite que faz dó
Queremos apenas pedir
Um pouco de pão-de-ló
Embrulhado num sorrir.

E já agora para animar
E aquecer nosso caminho
Venha daí a saltar
Uma caneca de vinho.

Tenham saúde e bom pão
Haja alegria e amor
Cumprimos a tradição
Com a graça do Senhor!

                               Frassino Machado
In AO CORRER DA PENA